Morte e mito de Inês de Castro: um breve resumo

A história de Inês de Castro é baseada no seu caso de amor proibido com o príncipe D. Pedro de Portugal. Ele já era casado; ela, além de madrinha do primogênito dele, pertencia à uma poderosa família de Castelo. Após a morte da esposa de D. Pedro, os dois ficaram juntos e tiveram quatro filhos. Porém, o rei D. Afonso tinha medo da influência que ela poderia ter sob o príncipe: mesmo sendo filha bastarda, a moça poderia ajudar na formação de alianças entre famílias rebeldes e causar guerras entre os dois reinos. Então, com a ajuda de três nobres, D. Pedro ordena a execução de Inês.

Pedro ficou revoltado, e foi necessário a intervenção da Igreja para garantir que ele não tomasse vingança. A promessa de paz que o príncipe fez, porém, só durou até a morte de seu pai. Quando foi coroado rei, D. Pedro conseguiu que os assassinos de Inês lhe fossem entregues. Ele ordenou suas mortes, de forma tortuosa, e assistiu-as enquanto comia uma refeição, o que lhe herdou o apelido “O Cru” ou “O Justiceiro”. Depois, ele mandou construir duas sepulturas no Mosteiro de Alcobaça, e ordenou que o corpo de Inês fosse levado para lá; quando morreu, ele foi enterrado ao lado de sua amada.

Ao longo dos séculos, essa história foi sendo enriquecida com mitos e lendas, os quais passaram a fazer parte da cultura portuguesa. Na tragédia “Castro”, por exemplo, podemos ver como vários elementos foram introduzidos ao imaginário geral. Inês é vista como uma moça jovem e casta, que desperta em D. Pedro uma paixão avassaladora. Na peça, ela diz ao rei que “Em mim, matas a ele [D. Pedro]” quando a hora de sua morte chega. O próprio personagem do príncipe diz que “[…] o teu amor/Me acompanhará sempre, té que deixe/O meu corpo co teu, e lá vá essa alma/ Descansar com a tua pera para sempre”. Além de revoltar-se contra o pai, ele fica tão desolado que já fica pronto à espera da própria morte para voltar a ficar junto da amada, fazendo alusão aos túmulos de Alcoçaba.

Esse túmulos estão entre os mais famosos na cultura européia: eles estão no mosteiro de Alcoçaba, em Portugal. Os dois amantes foram colocados frente a frente, de modo que, ressussitando, eles se levantem e vejam um ao outro.

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Túmulos de D. Pedro e Inês. Fonte.

O texto de “Os Lusíadas também traz essa imagem para o leitor, lembrando da coroa na cabeça da estátua de Inês no mosteiro (“Aquela que despois foi rainha”). Além desse, Camões descreve o imaginário de que a morte de Inês foi insistência do povo (“Mas o povo, com falsas e ferozes razões, à morte crua o persuade”), e de que o rei ficou com pena de Inês, deixando a decisão da execução para os nobres que o acompanharam. Nas duas obras, Inês pede misericórdia ao rei, com palavras que o deixam ainda mais comovido. “Ó, mulher forte, Venceste-me, abrandaste-me”, diz ele em “Castro”. Porém, isso não muda o seu destino, e a moça pura e perspicaz morre, para desespero de seu amante.

Diz também que houve uma grande comoção no evento em que o corpo dela foi levado até o mosteiro. Há lendas clamando que D. Pedro a colocou em um trono, coroou-a e ordenou que todos os nobres beijassem a mão do cadáver, reconhecendo-a como rainha. Porém, novamente, tudo o que se pode confirmar são os túmulos dos dois amantes, lado a lado, com a estátua de Inês coroada, imagens presentes em ambas obras e importantíssimas para o imaginário da cultura portuguesa.

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Túmulo de D. Inês, coroada. Fonte.
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Túmulo de D. Pedro, considerado uma das maiores obras góticas portuguesas. Fonte.

Referências

  • SELLERS, Maria Rosa Álvarez. O “Tema de Inês de Castro”. IN: FERREIRA, António; SELLERS, Maria Rosa Álvarez. (Org.). Castro. Biblioteca-Arquivo Teatral Francisco Pillado Mayor, 2000. p. 24 – 33.
  • SARAIVA, Antônio José. O crepúsculo da Idade Média em Portugal. p. 46 -51.
  • SARAIVA, Antônio José. Vingança e glorificação de Inês de Castro. IN: As crónicas de Fernão Lopes. Gradiva, 4ª edição. Pgs 48 – 56.
  • FERREIRA, António; Castro.CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas.

 

Trabalho de Introdução à Cultura Portuguesa I, com a orientação da Profª Drª Sheila Hue. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2018.2

Publicado por

Elizabeth Pereira

Bacharel em Letras Inglês/Literaturas. Já trabalhei na área de Português para Estrangeiros e com tradução de textos e legendagem; tenho interesse pessoal em divulgar discussões sobre arte e produção na área de video games

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