Esse texto é uma tradução do capítulo “Travelling White” de “The Education of a British-protected Child”, por Chinua Achebe
Viajando de branco
A Rodésia do Sul era simplesmente horrível…
Soube que as Cataratas de Vitória ficavam a só uns trinta e tantos quilômetros de distância, e que um ônibus que passava no hotel ia para lá. Então, na manhã seguinte, peguei esse ônibus.
De onde eu estava – ao lado do banco do motorista – não dava para ver o que estava acontecendo na parte de trás. Quando finalmente me virei – talvez por causa do silêncio estranho – percebi, com pavor, que todos ao meu redor eram brancos.
As pessoas já tinham desviados seus olhares pesados quando me virei, olhares muito hostis, que eu tinha sentido bem forte na nuca. O que aconteceu com todos os negros que estavam no ponto de ônibus? Por que ninguém me falou nada?
Olhei para trás de novo e só então percebi o detalhe de uma divisória e uma porta. Sempre me perguntei o que eu teria feito se tivesse notado as entradas separadas antes de entrar; sinceramente, não tenho certeza.
De qualquer jeito, lá estava eu, sentado ao lado do motorista, num ônibus vindo direto da era da Jim Crow*, na colônia de Nossa Majestade, a Rodésia do Norte – hoje em dia conhecida como Zâmbia. O motorista (negro) entrou, olhou para mim com grande surpresa, mas nada disse. O cobrador apareceu assim que a jornada começou.
Eu não precisava mais olhar pra trás: meus ouvidos viraram duas antenas de cada lado da minha cabeça. Ouvi um uma tranca se abrir, e o homem surgiu na minha frente. Nossa conversa foi mais ou menos assim:
Cobrador: O que você faz aqui?
Chinua Achebe: Estou indo para as Cataratas de Vitória.
Cobrador: Porque está sentado aí?
Chinua Achebe: Por que não estaria?
Cobrador: De onde você é?
Chinua Achebe: Não entendo o que isso tem a ver com o caso. Mas se quer mesmo saber, venho da Nigéria, e nos ônibus de lá nós sentamos onde queremos.
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