[Tradução] Kelly Hall-Tompkins, uma New Yorker do Ano

Esse texto é uma tradução. Clique aqui para cessar o original.

Kelly Hall-Tompkins, uma New Yorker do Ano

Por Alexandra S. Levine, Dezembro de 2017

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Quando o elevador parou no quarto andar, o corredor se enchia com o som de um concerto.

Kelly Hall-Tompkins estava no seu estúdio em Washington Heights, se preparando para uma apresentação com a banda Westchester Philharmonic naquele fim de semana. Mas essa sala pequena, cheia de partituras, frases inspiradoras e livros do James Baldwin, não é o único lugar onde você pode ver a violinista renomada ensaiando. Uma vez por mês, ela visita abrigos locais para tocar peças de Beethoven, Bach e outros músicos clássicos para sem-tetos de Nova York.

No ano passado, Kelly ficou conhecida como a estrela do revival da Broadway de “O Violinista no Telhado”. Porém, há mais de uma década, bem antes dela poder imaginar que conseguiria o cobiçado papel de solista de violino, ela tocava música de câmara em projetos comunitários.

Era 2004. Kelly se preparava para uma apresentação solo, mas estava com dificuldades de concentração após perder uma pessoa querida. Precisando de companhia, ela foi até um abrigo perto do Lincoln Center e, passo a passo, começou a tocar o concerto de violino de Mozart nº 4 em Ré Maior. Doze pessoas escutaram as mesmas notas que ela tocaria mais tarde para uma platéia de mil. Alguns acompanhavam o ritmo com os pés, riam ou sorriam. Outros choravam – eles disseram à violinista que nunca tinham ouvido música clássica antes.

“Às vezes, dá para sensibilizar melhor as pessoas que estão nesse tipo de situação do que em platéias de pagantes”, diz Kelly. “É claro que a natureza da minha carreira é tocar para essas plateias, mas é mais emocionante alcançar com essas músicas aquelas que estão nesse momento de suas vidas.”

No ano seguinte, Kelly fundou o programa Música de Abrigo – Alimento para a Alma (Music Kitchen — Food for the Soul), que levanta o astral dos desabrigados de Nova York com recitais de música clássica. As profundas apresentações não são feitas em palcos grandiosos, e sim em salas modestas de abrigos, e viraram uma espécie de terapia para aqueles que escutam.

“É um programinha bem pequeno, mas que vem fazendo bastante impacto” diz Kelly. Desde então, ela já influenciou quase 200 musicistas – incluindo o vencedor do Grammy Emanuel Ax – a se juntarem a ela nas apresentações do Música de Abrigo em Manhattan, Brooklyn, Los Angeles e Paris. “Hoje, é difícil ver onde a minha carreira termina e onde o Música de Abrigo começa”.

Ela transformou o “Abrigo dos Apóstolos Sagrados” (Holy Apostles Soup Kitchen), na cidade de Chelsea, em uma sala de espetáculos digna do século XIX, para tocar Brahm. Em uma apresentação do sexteto dele em Sol Maior, as pessoas da sala – aproximadamente mil – “torciam e vibravam como se fosse um jogo de futebol. Quando finalmente chegamos no fim da música, eles comemoravam como se fosse o gol da vitória, e foi incrível.”

Música clássica pode emocionar as pessoas de um jeito que outros gêneros não conseguem, “por ter uma gama maior de paletas, que é diretamente ligada à qualquer emoção que sentimos como seres humanos. A música clássica nos leva à diversas iterações diferentes, com todas as complexidades que sentimos como seres humanos.”

Ela acrescenta que mendigos adultos são um público negligenciado. “Nós temos muitos programas para crianças – elas ainda estão em formação, ainda se tem esperança nelas. Mas há um clima dramático e de desolação que toma conta dos adultos nos abrigos. É muito importante que eles tenham a oportunidade de ficarem tão comovidos.”

Em um concerto recente, ela convidou todos a cantarem a famosa música “Sunrise Sunset”, de O Violinista no Telhado.

“Quantas pessoas já foram a um show da Broadway?” ela lembra de perguntar para o público. Só uma pessoa em uma sala com setenta. “Quantas já ouviram falar de O Violinista no Telhado?”. Só um, o mesmo homem. “Quantas pessoas já ouviram música clássica?”. Novamente, apenas um.

Ela distribuiu a letra e cantou enquanto tocava a melodia. Aqueles que estavam assistindo hesitaram no início.

“Foi a coisa mais incrível que eu já vi. Dava pra ouvir um barulhinho pequeno começando, e aí quando a gente chegou na parte do ‘Sunset, Sunrise’”, ela se interrompeu, cantando e balançando, reencenando o momento.

“Pessoas de culturas completamente diferentes da nossa se conectaram entre si pela eternidade dessas palavras. Elas ultrapassam as fronteiras do tempo, local, cultura, tudo. Eu toquei aquele espetáculo por 13 meses e nunca tinha sentido a profundidade dessas palavras até aquele momento.”

 

2018. Produção feita na Oficina de Tradução com Isa Mara Lando.

Publicado por

Elizabeth Pereira

Bacharel em Letras Inglês/Literaturas. Já trabalhei na área de Português para Estrangeiros e com tradução de textos e legendagem; tenho interesse pessoal em divulgar discussões sobre arte e produção na área de video games

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